Medicamentos estão se tornando ineficazes e doenças hoje facilmente tratáveis podem ser causa comum de mortes no futuro.
O cenário projetado não requer, porém, que se deixe de usar antimicrobianos (termo mais abrangente que o antibiótico que inclui também substâncias que agem sobre outros micróbios e não somente sobre bactérias). Um dos caminhos, segundo os especialistas, está na utilização adequada das substâncias. Para isso, é fundamental um conjunto de ações que vai do paciente a órgãos internacionais, passando por profissionais da saúde, pela indústria farmacêutica e pelos governos.
A Professora da Faculdade de Farmácia da PUCRS, Luciana de Oliveira frisa o uso incorreto como um dos principais desafios. “Muitas vezes, crianças recebem antibióticos para problemas respiratórios que não são causados por bactérias. E há a questão de resistência em hospitais, pois, principalmente nas UTIs, esses medicamentos são usados de maneira muito intensa”, ressalta a professora.
Entre as infecções que mais frequentemente precisam de tratamento com antibióticos estão as respiratórias, as gastrointestinais e as urinárias. Mas nem sempre essas doenças são causadas por bactérias e, nesses casos, não exigem esse tipo de medicamento. Essa variação acaba confundindo muitos pacientes.
“As queixas respiratórias nem sempre são infecções bacterianas, mas fazem com que as pessoas queiram utilizar antimicrobiano. Muitas vezes, eles são mal utilizados porque são mal prescritos”, ressalta Luciana.
O infectologista Paulo Behar relata uma situação que, embora não devesse ocorrer, faz parte da rotina dos consultórios. “Às vezes, tem uma criança com febre alta. É o primeiro filho, e os pais ficam apavorados. Então, eles exigem que o médico receite antibiótico. Em geral, a causa mais frequente de febre em crianças são doenças virais para as quais não se usa antibiótico. Eventualmente, um antiviral já resolve o problema. O médico tenta explicar, a pessoa insiste e ele acaba cedendo”.
Desde 2010, só é possível comprar antibióticos nas farmácias brasileiras com receita médica. A regra, estabelecida por uma resolução da diretoria colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é considerada por especialistas um avanço para frear o uso indiscriminado dos antimicrobianos.
“Esses critérios resolveram um grande problema. Antes, a pessoa tinha uma infecção respiratória, ia ao médico e ele prescrevia um determinado medicamento. Quando essa mesma pessoa apresentava, posteriormente, sintomas parecidos, acabava voltando a usar essa droga ou indicando a um conhecido”, afirma Luciana.
A RDC 44/2010 regulou que os estabelecimentos que comercializam o produto devem "manter à disposição das autoridades sanitárias a documentação fiscal referente à compra, venda, transferência ou devolução das substâncias antimicrobianas bem como dos medicamentos que as contenham". A resolução diz ainda que "toda documentação relativa à movimentação de entradas, saídas ou perdas de antimicrobianos deverá permanecer arquivada no estabelecimento e à disposição das autoridades sanitárias" por no mínimo cinco anos.
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