O aumento da renda dos consumidores,
a ampliação do acesso a planos privados de saúde e o envelhecimento da
população devem fazer o mercado farmacêutico brasileiro de varejo mais do que
dobrar em cinco anos, de acordo com estimativa da consultoria IMS Health. Após
crescimento de 19% em 2011, movimentando R$ 38 bilhões em vendas, este segmento
deve atingir R$ 87 bilhões em 2017.
O diretor-comercial e de Marketing da consultoria, Paulo Murilo Paiva, falou
com exclusividade ao DCI sobre o impacto do programa Farmácia Popular, a perda
de patentes de medicamentos de referência, o aumento do poder de negociação de
preços dos grandes compradores farmacêuticos, medicamentos biológicos, a
crescente importância dos países emergentes no cenário global, entre outras questões
que explicam o que impulsionará o mercado farmacêutico brasileiro nos próximos
anos.
Farmácia Popular
O programa Farmácia Popular, de distribuição gratuita de medicamentos para as
doenças mais comuns da população brasileira, já representa, em 2012, 7,7% do
volume de doses do mercado nacional, que está hoje em cerca de 90 bilhões de
doses. A preço de compra das farmácias, o programa movimenta o equivalente a R$
1,5 bilhão em vendas, ante R$ 300 milhões no começo de 2011. Segundo o IMS
Health, o avanço dessa política não só impulsiona o volume de vendas, como
altera o mix competitivo das empresas.
"Pacientes que usavam medicamentos que não estão na farmácia popular,
analisando com seu médico, optam pela troca do produto. Isso faz com que
aumente a competição entre produtos que estão e que não estão no
programa", explica Paiva. Segundo ele, isso favorece empresas que podem
trabalhar com os preços praticados na Farmácia Popular. E a competição deve
crescer, à medida em que novas terapias sejam incluídas no programa -hoje são
cerca de oito, sendo hipertensão, diabetes e asma as principais - e que ele se
expanda geograficamente. "Hoje o Farmácia Popular é muito presente nos
grandes centros, mas está mudando para atingir os municípios de baixa renda",
diz o consultor.
Patentes
O Brasil tem R$ 1 bilhão em vendas de medicamentos que perderão sua patente até
2016. De 2016 a 2020, é mais R$ 1,8 bilhão. "Se considerarmos o mercado
total do Brasil, que é de R$ 45 bilhões, R$ 1 bilhão é um nada, tudo que tinha
que perder patente, de grande porte, já perdeu", diz Paiva. Hoje, 94% do
mercado brasileiro de varejo em valor já não é mais protegido. Os genéricos
atingem 22% do mercado, considerados preços saídos de fábrica, e 12%,
considerados preços praticados no varejo, segundo o IMS.
Já no âmbito dos medicamentos de uso hospitalar, como os oncológicos, há
maiores oportunidades a partir da perda de exclusividade, explica Paiva.
"Mas há uma dificuldade que é a obtenção do biossimilar, muito mais
complexa do que a do genérico, e as questões regulatórias, muito mais rígidas.
Isso é uma barreira de entrada para empresas explorarem este mercado",
afirma. No mundo, o mercado de remédios biológicos movimenta US$ 157 bilhões, e
os biossimilares representam 2% desse valor.
Pressão nas margens
Outra mudança relevante para a indústria de medicamentos é o aumento do poder
de negociação de preços dos grandes compradores. Isso ocorre devido à crescente
consolidação do varejo farmacêutico, através de fusões e aquisições; do aumento
do volume de compras públicas, e, no futuro, da assistência farmacêutica nos
planos privados, atualmente tema de discussão em grupos de trabalho na Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
De acordo com o IMS Health, o Brasil possui hoje 66,5 mil farmácias, cerca de
50% das quais são parte de grandes redes de varejo. "Isso dá às empresas
um poder de negociação muito grande", diz Paiva. Por exemplo, o desconto
médio da indústria para o varejo em genéricos é de 60%, sendo que esse tipo de
medicamento já é 35% mais barato do que o produto de referência. Para o
medicamento de referência, o desconto médio é de 16%, e o do similar, 40%.
"Existe hoje uma pressão muito forte por aumento da margem do varejo e,
consequentemente, redução da margem do distribuidor e do fabricante", diz.
Já as compras governamentais extravarejo movimentam cerca de R$ 8,2 bilhões
atualmente. "De todo o gasto público e privado hoje de medicamentos para o
mercado não-varejo, 53% ainda não é coberto por nenhuma lista dos programas do
governo brasileiro, portanto esse mercado tem potencial para dobrar de
tamanho". A assistência farmacêutica a ser oferecida pelos planos privados
para doenças crônicas poderá representar uma redução de gastos públicos com
medicamentos. "Mas ainda não é possível mensurar qual será o impacto
disso."
Emergentes
Em nível global, o consultor aponta como tendência o aumento da importância
relativa dos países emergentes. Em 2006, os Estados Unidos respondiam por 41%
do mercado mundial, os principais mercados da Europa, por 19%, e o Japão, por
10%, enquanto os emergentes eram responsáveis por 14% da receita global. Em
2011, o mercado americano passou a representar 34%, os europeus, 17%, o Japão,
12% e os emergentes, 20%.
"A previsão para 2016 é que o mercado americano será 31% do total, os
cinco principais mercados europeus, 13%, o Japão, em torno de 10%, e os
mercados emergentes serão 30% do mercado global", conta Paiva. Ele, no
entanto, ressalta que a produção de insumos continua concentrada nos mercados
maduros. "Mudar isso demanda investimento em educação e pesquisa",
conclui.
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