Os governos federal e de São Paulo pretendem aproveitar uma vacina contra a dengue que está em fase final de testes para criar um imunizante único que, além de evitar os quatro tipos da doença, seja ainda antizika.
A aposta foi divulgada nesta segunda-feira (22) pela presidente Dilma Rousseff (PT) e por integrantes da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), no evento em que a União liberou R$ 100 milhões para a terceira e última etapa de testes da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan, do governo paulista.
"O desafio é chegar à vacina contra o zika vírus. Um dos caminhos é esse, de transformar essa vacina tetravalente [contra os quatro tipos de dengue] em uma vacina pentavalente [incluindo ainda a zika]", afirmou Dilma.
A vacina contra a dengue do Instituto Butantan começou a ser estudada em 2008 —e a estimativa é que possa ser aplicada em 2018.
O aporte da União para desenvolvê-la só chegou agora, em meio à repercussão mundial do avanço do vírus da zika, transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo vetor da dengue. Antes, havia financiamento do governo paulista, do BNDES e da Fapesp (fundação paulista para pesquisas).
Mas, segundo especialistas, a vacina única precisa seguir testes independentes e deve demorar ainda mais, mesmo que seja aproveitado parte do que já foi adquirido nos testes da vacina contra a dengue.
"O desenho de fazer uma mesma vacina contra dengue e zika é interessante, mas, primeiro, é preciso saber como o vírus da zika realmente se comporta", diz Esper Kallás, infectologista do Sírio-Libanes e pesquisador da USP.
"O mais importante é continuar com os testes da vacina contra dengue, que, em termos de saúde pública, é até mais importante que a zika", afirma Sylvio Renan de Barros, que atuou por três décadas no Hospital Sabará.
Em 2015, a epidemia de dengue no país bateu recorde, com 1,6 milhão de casos.
O surto de zika despertou atenção mundial especialmente devido à possível relação com a alta de casos de microcefalia (má-formação no cérebro de recém-nascidos). De outubro para cá, foram confirmados 508 casos e há outros 3.935 em investigação.
A vacina do Butantan contra a dengue passou pelas fases 1 e 2 (para avaliar a segurança do produto) e será testada em 17 mil voluntários (para mensurar sua eficácia).
O presidente do Instituto Butantan, Jorge Kalil, diz que, se a mistura não for bem-sucedida, será desenvolvida uma nova vacina separada do imunizante contra dengue.
Apostas
Além dos R$ 100 milhões liberados nesta segunda pelo Ministério da Saúde, a gestão Dilma se comprometeu com mais R$ 200 milhões que devem vir do Ministério da Ciência e Tecnologia e do BNDES.
O dinheiro servirá para aumentar a capacidade de produção de vacinas do instituto paulista, por exemplo.
Um outro convênio firmado é para desenvolver tratamento a pessoas infectadas pela zika. O instituto irá estudar soros e medicamentos capazes de diminuir os efeitos do vírus no organismo.
"Os dois são igualmente importantes, pois nós conseguiríamos atuar nas mulheres grávidas, principalmente, tentando evitar a transmissão de mãe para filho de zika vírus", disse David Uip, secretário da Saúde do governo Alckmin.
A Fapesp ainda vai investir R$ 100 milhões em trabalhos científicos para investigar dengue, zika e chikungunya.
Outra vacina
Uma outra vacina contra a dengue, produzida pela multinacional francesa Sanofi Pasteur, começou a ser usada nas Filipinas nesta segunda (22) e deve chegar ao Brasil na rede particular até junho, conforme a mais recente previsão.
O medicamento foi registrado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no fim de dezembro e terá seu preço determinado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos.
México, Paraguai e El Salvador também já registraram a Dengvaxia, nome comercial do imunizante da empresa.
A vacina apresentou uma eficácia global de 66% contra as quatro variações do vírus considerada baixa por algumas autoridades de saúde; a da febre amarela, por exemplo, supera 90%.
O imunizante deve ser aplicado em três doses, com intervalos de seis meses, e a proteção começa 21 dias depois da primeira dose.
Segundo Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur, há proteção de 93% contra casos graves da doença e redução de 80% das internações. A vacina se mostrou mais eficiente contra a dengue tipo 4 (83%) e 3 (73%) e menos eficiente contra os tipos 1 (58%) e 2 (47%).
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