Em qualquer área que o farmacêutico atue no Brasil, sempre haverá percalços e desafios a serem suplantados. Aliás, isso é comum em qualquer profissão. No entanto, aqueles que atuam no varejo sabem que ser um responsável técnico (RT) na farmácia é uma função de muita responsabilidade e com forte carga burocrática. Por conta disso, há os que atribuem seus desafios profissionais a essa função.
“De modo geral, o farmacêutico RT é o responsável por toda a parte técnica do estabelecimento onde trabalha, por isso deve e tem que cobrar de seus subordinados, pois ele responde civil e penalmente por qualquer dano que cause ao consumidor”, comenta a farmacêutica RT da Farmácia de Minas, em Passa Quatro (MG), Paula Ribeiro Pereira.
Ela explica que atua em uma farmácia pública, e coordena todos os assuntos ligados aos medicamentos, desde que chegam à loja até sua dispensação, sendo responsável também por todos os POPs e manuais, e a dispensação de medicamentos pertencentes à Portaria 344/98.
O RT da Clinifar (SP) – a farmácia escola do ICTQ -, Demóstenes Martins, diz que é fundamental estar sempre atualizado com relação às normas e leis vigentes pertinentes ao comércio de drogas, medicamentos e correlatos. “Criamos um vínculo com os colegas de trabalho por meio de treinamentos que passamos para sempre manter a equipeatualizada com a legislação vigente, evitando, assim, erros de dispensação de medicamentos e correlatos”, destaca.
Desafios
Quem ler a descrição da função afirma que ela parece maravilhosa, mas quem atua como RT garante que as coisas nem sempre são como parecem…”O maior desafio do dia a dia é conseguir conciliar o bom atendimento ao paciente/cliente e manter tudo que é pertinente a sua função corretamente e em conformidade com a legislação e normas vigentes”, comenta Martins.
Já Paula assegura que lidar com superiores que não entendem a legislação farmacêutica e pedem para que sejam feitos procedimentos que não são possíveis é um fator estressante para os RTs. “Além disso, é muito difícil atender a pacientes querendo medicamento sem a apresentação da receita. Sem falar nos colegas de serviço querendoque eu libere a medicação para o paciente sem a receita, se responsabilizando por trazer mais tarde”, reclama ela.
7 desafios da função
Entre as responsabilidades e os desafios, há aqueles entraves, muitas vezes considerados inevitáveis, que tiram o sono do RT. Os entrevistados elencaram os sete piores pesadelos da função. Acompanhe:
- Roubo de medicamentos controlados. “Nunca passei por essa situação, mas se um dia isso ocorrer, é fundamental tomar providências imediatas a nível criminal”, ressalta Martins;
- Estoque não bater no final do mês com o controle do SNGPC e, por isso, ter de ficar procurando receita por receita para ver o que foi feito de errado;
- Ter de ir ao fórum da cidade dar explicações de porque a medicação de fulano de tal não foi dispensada. “Toda vez que tenho que fazer isso, meu coração gela”, diz Paula;
- Brigar constantemente com superiores que tentam convencer o RT a burlar a legislação;
- Conviver com colaboradores que não querem aprender. “Trabalho em farmácia pública. Já tive uma funcionária que, devido a ter cargo político, me dizia que estava na farmácia para receber seu salário e não para trabalhar”, lamenta Paula.
- Saber que o farmacêutico substituto ou o balconista erraram na dispensação de medicamentos de controle especial. “O SNGPC é uma ferramenta que veio trazer segurança para medicamentos sujeitos a controle especial e, assim, podemos evitar erros tanto de aquisição como de dispensação”, lembra Martins;
- Ver o paciente sair desesperado de uma farmácia porque não tem dinheiro para comprar o medicamento para o filho ou para a mãe doentes.
Apesar de tudo isso, há quem goste…e muito. “Se não fosse o amor pela profissão, não haveria mais farmacêuticos para trabalhar neste setor, que graças a Deus é o meu caso”, orgulha-se, Paula, que escolheu ser farmacêutica RT e diz ter sido a atitude mais acertada que tomou em sua vida.
Principais funções do RT
Vale entender melhor quais são as principais funções de um farmacêutico RT em uma farmácia.
- Manter o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos e insumos farmacêuticos e correlatos e interpretar e estabelecer condições para ocumprimento da legislação pertinente;
- Estabelecer critérios e supervisionar o processo de aquisição de medicamentos e demais produtos;
- Fazer a avaliação da prescrição médica,
- Assegurar as condições adequadas de conservação e dispensação dos produtos,
- Manter arquivos, que podem ser informatizados, com a documentação correspondente aos produtos sujeitos a controle especial.
- Elaborar, organizar e operacionalizar as áreas e atividades da drogaria,
- Manter atualizada a escrituração;
- Manter a guarda dos produtos sujeitos a controle especial de acordo com a legislação específica;
- Prestar assistência farmacêutica necessária ao consumidor, esclarecendo todas suas dúvidas;
- Promover treinamento inicial e contínuo dos funcionários para a adequação da execução de suas atividades.
Fonte: ICTQ